Conflitos ecológicos e sentidos do Antropoceno são debatidos em palestra com pesquisador da Universidade de Bolonha
Na noite do último 16 de abril, o auditório da Unidade I da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), em Marabá, recebeu a palestra “Vozes do Antropoceno: A Dimensão Semântica dos Conflitos Ecológicos”, ministrada pelo professor convidado Carlo Andrea Tassinari. Doutor em Ciências da Linguagem e pesquisador da Universidade de Bolonha (Unibo), Tassinari atualmente desenvolve sua pesquisa em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp).
O evento foi promovido pelos Programas de Pós-Graduação em História (PPGHIST) e Letras (Poslet), reunindo docentes, discentes e pesquisadores em um debate sobre a constituição de sentidos em torno dos conflitos socioambientais e dos desafios impostos pela crise ecológica global.
Antes da palestra, uma mesa de abertura contou com a participação do reitor da Unifesspa, professor Francisco Ribeiro, do coordenador do Poslet, professor Ariel Pheula, e do coordenador do PPGHIST, professor Geovanni Cabral, que também mediou o debate.
Geólogo de formação, o reitor destacou a vulnerabilidade climática da região com base em pesquisas realizadas na Serra dos Carajás. Apontou, também, como o uso intensivo de combustíveis fósseis tem impactado o meio ambiente e como o avanço do desmatamento no sul e sudeste do Pará têm alterado o regime de chuvas, intensificado as secas e ameaçado os modos de vida tradicionais. “A palestra nos convidou a ouvir as vozes silenciadas do Antropoceno e a repensar nossa relação com o planeta. A ciência, o diálogo e a escuta dos saberes tradicionais são caminhos urgentes”, afirmou Ribeiro.
O professor Ariel Pheula enfatizou a importância de refletir sobre os sentidos atribuídos ao Antropoceno, destacando como diferentes discursos moldam a compreensão da crise ambiental. Para ele, é preciso pensar nas interfaces entre as múltiplas fases do Antropoceno e seus efeitos sobre a vida humana. Já o professor Geovanni Cabral ressaltou que compreender os conflitos ecológicos requer uma abordagem variada e interdisciplinar, capaz de percorrer os diversos caminhos da ciência.
Em sua apresentação, Carlo Tassinari explicou que sua pesquisa, iniciada em 2023 e atualmente em desenvolvimento no Brasil, busca compreender os conflitos ecológicos a partir de suas dimensões semânticas e semióticas. O pesquisador abordou temas como emissão de gases do efeito estufa, aquecimento global, empobrecimento dos solos e desmatamento, propondo a criação de protocolos que ajudem a interpretar essas crises por meio dos discursos que as constroem.
Tassinari também chamou atenção para a ausência de vozes nos processos de construção de discursos sobre responsabilidade ecológica, especialmente no âmbito político. Para ele, é fundamental problematizar a legalidade e a legitimação de determinadas narrativas que silenciam populações diretamente afetadas pelas mudanças ambientais.
"Antropoceno não é uma crise da natureza, mas uma crise semântica e enunciativa operada sobre deslocamentos cosmológicos, espaciais, temporais e indenitários. Esses deslocamentos operam através de controvérsias ecológicas, que se apresentam como conflitos de classificações, ou seja como lugares de fala onde diferentes grupos sociais "dão voz" a entidades não humanas, moldando a sociedade através de um mecanismo semiótico e político de representação. Nosso objetivo como pesquisa é ajudar a desconstruir retóricas não transformadoras sobre o meio ambiente", frisou Tassinari.
Para os participantes, o evento proporcionou reflexões importantes sobre a forma como a linguagem participa da construção dos sentidos da crise ecológica, fortalecendo o diálogo entre ciência, política e os saberes tradicionais na busca por respostas mais justas e sustentáveis.
Redes Sociais