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Estudo analisa relação entre o humor e a violência da Ditadura Militar na obra de Luís Fernando Verissimo

  • Publicado: Quinta, 29 de Abril de 2021, 15h11
  • Última atualização em Sexta, 30 de Abril de 2021, 09h48
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prof carlos costaAs possibilidades do riso diante de situações que envolvem dor e sofrimento guiaram a reflexão da tese de doutorado do professor Carlos Augusto Costa, do Instituto de Estudos do Xingu (IEX/Unifesspa), defendida na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Em sua tese “O difícil disfarce da dor: humor e memória do terror em Luís Fernando Verissimo”, o pesquisador buscou compreender como o escritor gaúcho Luís Fernando Verissimo, um dos mais importantes autores da literatura brasileira contemporânea, conseguiu conciliar a dualidade entre humor e a violência em sua obra.

Escritor, humorista, cartunista, tradutor e roteirista, Fernando Verissimo publicou, ao longo de sua carreira, mais de 60 livros, entre contos, crônicas, novelas, romances, relatos de viagens e quadrinhos. Ainda que muito marcada pelo humor, sua obra nunca deixou de tratar de temas ditos sérios, como a política, e o autor sempre se posicionou em seus escritos contra a ditadura, a repressão e a censura, chegando a conquistar a Medalha Chico Mendes de Resistência, do Grupo Tortura Nunca Mais. 

O interesse de Carlos Costa em pesquisar a obra do escritor gaúcho surgiu há mais de dez anos, quando cursava mestrado na Universidade de São Paulo. A dificuldade de relacionar o humor e a violência, sem banalizar o sofrimento alheio, instigou o pesquisador que, a partir de então, debruçou-se sobre a obra de Veríssimo e decidiu fazer o projeto de tese.

“Fiz uma leitura de um conjunto de contos e crônicas publicados em antologias de 1975 até 2010. O objetivo central da pesquisa foi examinar a relação entre humor e violência da Ditadura Militar de brasileira de 1964. Daí questões como autoritarismo, censura, repressão, tortura, memória e esquecimento foram enfocadas a partir da perspectiva do humorismo”, afirma o pesquisador.

O pesquisador conta que, dessas leituras, selecionou aproximadamente 100 textos, dos quais 40 foram sintetizados como objeto da pesquisa. Nessa análise, ele fez uma divisão temática do material reunido, separando as crônicas e contos em categorias, como: crítica ao autoritarismo e suas continuidades; censura; repressão; e os temas tortura, memória e esquecimento. “Procurei compreender em que medida a produção literária de Verissimo, que provoca riso a partir de situações de dor e sofrimento, pode ser eticamente aceita e legitimada como crítica à violência de Estado. Em reposta a isso, delimitei duas hipóteses”, explica o professor.

luis fernando verissimo foto Eduardo Nicolau EstadãoSegundo ele, a primeira delas e, também, a central, é a de que os textos estudados são formalmente constituídos por uma ética da representação humorística. Isso porque sua finalidade não é banalizar o sofrimento, mas, por meio do humor, levar o leitor a refletir sobre a violência de Estado, desenvolver empatia com as vítimas e contribuir com a liberação da dor e fortalecimento do eu diante da excessiva demanda de violência externa.

Em segundo plano, procurou pensar que o estudo da obra leva a entender que há um senso ético de responsabilidade com o “eu narrativo” para com o outro leitor, que está fora do texto, e o outro “vítima”, que está fora e/ou dentro do texto, já que alguns contos tratam representação fictícia de sujeitos que de fato passaram por violência durante a ditadura.

A tese do pesquisador é dividida em três capítulos. No primeiro deles, ele procura percorrer e discutir o valor estético da produção literária de Verissimo, dando destaque para principais linhas de abordagem de sua obra. Já na segunda parte, foi feita uma abordagem das concepções de autoritarismo, violência e memória, temas recorrentes na produção do escritor.

No capítulo final, ocorre uma análise das crônicas e contos, com foco na abordagem da ética da representação humorística e ética da responsabilidade, além de enfatizar o humor da contemporaneidade. “Com isso, quis mostrar a continuidade do comprometimento à memória da ditadura militar e explicitar as possibilidades de novos estudos da obra Luís Fernando verismo. Aproveito para agradecer aos meus colegas da Unifesspa pelo apoio, e ao meu orientador, Prof. Dr. Elcio Loureiro Cornelsen”, finaliza.

 

*Com informações da Universidade Federal de Minas Gerais (texto adaptado) 

Foto 1: Professor Carlos Costa durante defesa da tese de doutorado. Fonte: Banco pessoal

Foto 2: Escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo. Fonte: Reprodução/Eduardo Nicolau/Estadão

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